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terça-feira, 2 de junho de 2009

"O Futuro de uma Ilusão"

O trecho que segue faz parte de um texto de Freud chamado "O futuro de uma ilusão". Longe de querer adentrar na discussão da religião, que é o assunto de que Freud se ocupa no texto, a minha atenção foi dirigida para o que o autor falou a respeito da natureza.
Li este texto hoje, e não pude deixar de pensar nos eventos - inundações, terremotos, tempestades de proporções gigantescas que vêm causando devastações cada vez maiores - que nos lembram exatamente o que Freud fala neste fragmento, ou seja, que estamos a mercê da natureza, não importa o quanto lutemos contra isso e o quanto isso nos pareça aterrorizante.
Quando penso na crise ambiental - que por nós aqui é entendida como socioambiental - penso que é uma ilusão pensarmos que, ao economizar água, reciclar, e fazer todas aquelas coisas que os ambientalistas recomendam, nós estamos salvando o mundo. Não. Nós estamos tentando salvar a nossa espécie. É a raça humana que está em perigo. Pois o mundo, ou melhor, a natureza, vai achar um jeito de reencontrar o seu equilíbrio. E se isso tiver que acontecer às custas da extinção da humanidade, assim será. Outras espécies já viveram aqui e se foram pois não era mais viável sua existência no mundo - e o homem continua acreditando que com ele será diferente. Bom, até poderá ser. Mas só se ele tiver consciência de que é a vida dele que está em perigo - e não a da árvore que dizem que temos que abraçar - e começar a se mexer, AGORA, JÁ.

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"Mas quão ingrato, quão insensato, no fim das contas, é esforçar-se pela abolição da civilização! O que então restaria seria um estado de natureza, muito mais difícil de suportar. É verdade que a natureza não exigiria de nós quaisquer restrições dos instintos, deixar-nos-ia proceder como bem quiséssemos; contudo, ela possui seu próprio método, particularmente eficiente, de nos coibir. Ela nos destrói, fria, cruel e incansavelmente, segundo nos parece, e, possivelmente, através das próprias coisas que ocasionaram nossa satisfação. Foi precisamente por causa dos perigos com que a natureza nos ameaça que nos reunimos e criamos a civilização, a qual também, entre outras coisas, se destina a tornar possível nossa vida comunal, pois a principal missão da civilização, sua raison d’être real, é nos defender contra a natureza.
Todos sabemos que, de diversas maneiras, a civilização já faz isso bastante bem, e é claro que, na medida em que o tempo passa, o fará muito melhor. Ninguém, no entanto, alimenta a ilusão de que a natureza já foi vencida, e poucos se atrevem a ter esperanças de que um dia ela se submeta inteiramente ao homem. Há os elementos, que parecem escarnecer de qualquer controle humano; a terra, que treme, se escancara e sepulta toda a vida humana e suas obras; a água, que inunda e afoga tudo num torvelinho; as tempestades, que arrastam tudo o que se lhes antepõe; as doenças, que só recentemente identificamos como sendo ataques oriundos de outros organismos, e, finalmente, o penoso enigma da morte, contra o qual remédio algum foi encontrado e provavelmente nunca será. É com essas forças que a natureza se ergue contra nós, majestosa, cruel e inexorável; uma vez mais nos traz à mente nossa fraqueza e desamparo, de que pensávamos ter fugido através do trabalho de civilização. Uma das poucas impressões gratificantes e exaltantes que a humanidade pode oferecer, ocorre quando, em face de uma catástrofe elementar, esquece as discordâncias de sua civilização, todas as suas dificuldades e animosidades internas, e se lembra da grande tarefa comum de se preservar contra o poder superior da natureza."

[O Futuro de uma Ilusão - S. Freud]